Uma matéria publicada esta semana no Poder360 cravou: o presidente Lula já perdeu mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais neste ano. A informação tem origem em um estudo da Ativaweb, que realizou um levantamento técnico com base em dados públicos. A Secom rebateu: segundo o governo federal, as contas oficiais do presidente cresceram em seguidores no período analisado.
No meio disso tudo, os dados que tenho acesso — e que estão disponíveis gratuitamente na ferramenta Fanpage Karma — apontam para um cenário mais próximo do divulgado pela Secom, mas que também não é exatamente confortável para o Planalto. Entre 1º de janeiro e 4 de junho de 2025, os números mostram:
* No Facebook, saldo negativo de 9,4 mil seguidores.
* No Instagram, perda líquida de 43 mil seguidores.
* Já no YouTube e TikTok, houve crescimento que ameniza essas perdas.
Ou seja: Lula perdeu em algumas plataformas e cresceu em outras. Como qualquer figura pública com grande alcance, está sujeito a flutuações. Mas o mais grave dessa história não está nos números — e sim na forma como eles são usados.
A Ativaweb afirma que Lula perdeu mais de 1 milhão de seguidores. A Secom diz que houve crescimento líquido. Quem está com a razão? Os dois.
Vamos a um exemplo simples: se você tem R$ 1.000 na conta, gasta R$ 530 e depois recebe um Pix de R$ 510, o que é verdade? Que você perdeu R$ 530? Ou que seu saldo caiu só R$ 20? Ambas as afirmações estão corretas, você ainda tem R$ 980 na conta — a diferença está na perspectiva.
Nas redes, o número total de seguidores é resultado de uma fórmula simples: seguidores atuais = seguidores anteriores – perdas + ganhos. A Ativaweb olha para as perdas brutas. A Secom olha para o saldo final. E a política faz o resto.
É aí que o debate começa a ficar perigoso.
Tudo isso acontece na mesma semana em que o Supremo Tribunal Federal avança sobre a regulação das plataformas digitais no Brasil. Sem entrar no mérito da discussão, há um fato inegável: o Congresso se omitiu. E, ao se omitir, empurrou para o Judiciário a tarefa ingrata de arbitrar disputas que deveriam ser resolvidas em lei, com critérios, com ampla discussão, prazos e salvaguardas.
O caso dos seguidores de Lula é o retrato dessa encruzilhada.
O estudo da Ativaweb é tecnicamente fundamentado. A Secom também tem dados verdadeiros. Os dados do Fanpagekarma, fonte que confio — independentes, auditáveis e públicos — confirmam que houve perdas nas redes da meta principalmente, como aponta o estudo da AtivaWeb. E agora? Quem decide o que é verdade? O que é fake news? O que é manipulação?
Uma conta com 13,3 milhões de seguidores no instagram perder 43 mil no Instagram em cinco meses significa uma variação de -0,32%. Estatisticamente, irrelevante. Politicamente, inflamável.
Talvez Lula tenha perdido seguidores. Mas o Brasil perdeu mais: perdeu a chance de ter regras claras para um debate que não pode ser resolvido no grito — e sim com profundo debate. Se agora cada número pode virar narrativa, e cada narrativa virar censura ou crime, estamos diante de um terreno que não é legal.
Seguidores vão e vêm. A confiança nas instituições, não.
(*) MARCELLO NATALE é estrategista digital e fundador do COMPOL Brasil.
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