Os dois presidentes poderão se encontrar pela primeira vez nos corredores da ONU. Como de praxe, cabe ao Brasil fazer o discurso de abertura amanhã no plenário da Assembleia-Geral da ONU. Trump ocupará a tribuna logo em seguida. O governo brasileiro entende que os contrastes entre eles ficarão claros.
Não há pedidos de reunião bilateral, que poderiam ser interpretados como humilhação ao Brasil. Os mais experientes ex-embaixadores brasileiros em Washington classificaram o atual momento como o pior em 200 anos de relações diplomáticas. Ameaças de novas punições ao Brasil em virtude do apoio de Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro tendem a piorar a crise.
TARIFAS. Os diplomatas avaliam que Lula errou ao apoiar os democratas para sucessão de Joe Biden, divergem sobre a conveniência de um contato direto com Trump, como um telefonema, mas concordam que o republicano praticou uma ingerência na política brasileira. A Casa Branca insiste na tese de defesa da liberdade de expressão por parte de Trump, que vê uma caça às bruxas na condenação de Bolsonaro, com quem ele se comparou, e na suposta perseguição às big techs americanas.
O Planalto, no entanto, enxerga no tarifaço de 50% e na pressão por meio de sanções pessoais (com corte de vistos e cerco financeiro da Lei Magnistky) a ministros do governo e do Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente Alexandre de Moraes, uma tentativa de ingerência nas eleições de 2026. De visões antagônicas em questões importantes, dos conflitos geopolíticos à emergência climática, Lula e Trump se chocam em uma série de pontos.
SANÇÕES. Nos bastidores, há o temor de que autoridades brasileiras sejam alvo de novas sanções ou que o País sofra novas tarifas ou sanções secundárias em razão da compra do diesel e de fertilizantes russos. Antes da Assembleia-Geral, o Departamento de Estado dos EUA impôs restrições de locomoção no visto diplomático de representantes brasileiros.
Impedido de circular livremente em Nova York, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, desistiu de viajar. Em carta, apontou obscurantismo e prejuízos ao Brasil. Integrantes da delegação brasileira de menor escalão também tiveram a movimentação restrita. O episódio não deve passar batido do discurso de Lula, que deve mencionar as restrições não só à comitiva do Brasil, mas também à delegação palestina. Preparado há dias, a fala deve citar as prioridades da política externa brasileira. No Planalto, a ideia é mandar uma mensagem contundente e responder a Trump, ainda que Lula não deseje mencioná-lo.
A posição de enfrentamento recebeu elogios fora do País, na avaliação do governo, algo que o Planalto não quer deixar escapar. Lula pretende fazer uma defesa enfática da soberania nacional, frente aos ataques de Washington, da democracia e da independência das instituições.
MULTILATERALISMO. Lula vai citar a crise do multilateralismo, a proliferação de guerras e a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU, fazendo referência à campanha do Brasil por um assento permanente. Ele também deve citar as prioridades da COP-30 e criticar quem põe em xeque as mudanças climáticas.
O presidente também deve qualificar como "genocídio" a atuação de Israel na Faixa de Gaza e manifestar publicamente o apoio do Brasil ao processo contra o governo israelense na Corte Internacional de Justiça (CIJ), aproveitando a onda favorável aos palestinos patrocinada pelo governo da França.
(Com Agência Estado)
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