O ano era 1925. Naquele ano, em 4 de janeiro foi criado o Clube Esportivo Dom Bosco, o azulão da colina, e em 13 de setembro, nasceu Ana Maria do Couto − mais conhecida como May do Couto − que tanto amou esse clube e que veio a tornar-se sua presidente em 1971, um dos anos de ouro do Dom Bosco. May não completou o seu mandato; teve que renunciar ao cargo quando começou a sucumbir à sua enfermidade. Naquele ano o Dom Bosco foi campeão cuiabano e a sua ex-presidente foi homenageada durante as comemorações desse feito.
O ano é 2025. O Clube Esportivo Dom Bosco já completou o seu centenário, e nesta semana, celebraremos o que seria o centenário de nascimento de May que, cerca de um mês após completar 46 anos, numa manhã calma e ensolarada, partiu enquanto eu segurava a sua mão. Num domingo de outubro, em 1971, Cuiabá parou para homenagear essa sua cidadã.
May teve uma vida breve, mas viveu intensamente e com muitas realizações. Pioneira em algumas das áreas onde atuou, fico a imaginar o que mais ela teria feito se tivesse tido uma vida longeva.
Dona de um imenso carisma, o seu sorriso iluminava o lugar onde estava. Alegre e festeira, a sua casa era um ponto de encontro de amigos e parentes. Nos fins de semana os almoços feitos por vovó Chiquita eram disputados. As sobremesas regionais ficavam por conta de tia Nenê, a jocosa irmã de vovó. Tia Nenê e vovó Chiquita eram viúvas e moravam com tia May. Cresci vendo essas três cuiabanas dividindo uma casa harmoniosa e feliz.
Quis o destino que as duas mais velhas tivessem que, prematuramente, se despedir da mais nova. Naquela casa já não moravam as três. Vovó Chiquita ficou inconsolável com a partida da sua adorada filha. Uma névoa escura desceu sobre ela. O silêncio e a escuridão passaram a fazer parte de sua vida. Quando eu tentava consolá-la, ela dizia: “meu luto durará enquanto eu viver. Eu jamais me esquecerei de May!”
Vovó, eu também, eu nunca me esqueci de tia May! Nos momentos difíceis busquei a sua força para, de cabeça erguida, seguir em frente. Pensei comigo: “eu aguento, eu tenho o sangue de May do Couto!” E nos momentos em que senti medo, eu rezei pedindo por um pouco de sua coragem. Assim, eu segui, em todos esses anos, mantendo-a viva, em meu coração.
Hoje, eu sinto falta do cheiro de liberdade que ela exalava! Tenho saudade do seu sorriso, do seu abraço, dos fins de semana festivos, dos passeios, dos banhos nos rios Coxipó e Cuiabá e das viagens ao Rio de Janeiro, que ela adorava. Com tia May a vida era uma festa!
Minha filha, Tayane, conheceu vovó Chiquita e tia Nenê, mas não tia May, que faleceu muitos anos antes do seu nascimento. Eu contei a ela muitas das histórias que ouvi de vovó Chiquita e tia Nenê. E sempre falei sobre tia May e o quanto ela foi, e é, importante para mim. Entre tantas outras coisas, ela parava para me ouvir numa época em que as crianças não tinham voz.
Quando eu era menina ela ensinou-me a propor trabalho para ganhar algum trocado. Ela dizia: “dinheiro não vem de graça!” E, com ela, aprendi a manter a cabeça erguida nas adversidades.
Tayane tem ficado ao meu lado em todos os eventos sobre tia May. Essa foi a maior homenagem que eu prestei à minha tia: o amor por ela continuou de mãe para filha. Sei que, quando eu for me juntar aos meus ancestrais, ainda haverá alguém para contar a sua história.
*TELMA CENIRA COUTO DA SILVA é sobrinha de Ana Maria do Couto
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