Ex-prefeita de Canindé, viúva do radialista Ximenes Filho - morto em 2014 -, Rozário denunciou ao Ministério Público do Ceará e também em entrevista ao Estadão suposto conluio entre Júnior Mano e Bebeto do Choró (PSB), prefeito eleito de Choró, para 'lavar' verbas de emendas via licitações forjadas e superfaturadas. O dinheiro arrecadado teria abastecido campanhas eleitorais de aliados do grupo ligado a Júnior Mano em 2024.
Até a publicação deste texto, o Estadão pediu manifestação do deputado, mas sem sucesso. Já Bebeto do Choró não foi localizado pela reportagem. O espaço está aberto.
Júnior Mano é o alvo principal da Operação Underhand, deflagrada nesta terça, 8. Agentes da Polícia Federal fizaram buscas em seu gabinete na Câmara e em outros 15 endereços, por ordem do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.
O ministro decretou o bloqueio de R$ 54,4 milhões de Júnior Mano e de outros alvos do inquérito.
Rozário Ximenes se encorajou em denunciar o esquema das emendas quando identificou o avanço das campanhas eleitorais do ano passado que tiveram apoio de Júnior Mano e Bebeto do Choró. Ela pretendia eleger seu sucessor na prefeitura de Canindé, cargo que ocupou por dois mandatos sucessivos (2017-2024), mas quem levou foi o candidato de oposição, Professor Jardel, ligado a Choró.
Ao constatar os métodos e o poder financeiro dos rivais, Rozário bateu à porta do Ministério Público do Ceará, em setembro de 2024. Ela detalhou os laços de Carlos Alberto Queiroz Pereira, o Bebeto do Choró, e o parlamentar federal.
Segundo Rozário, a trama envolveu empresas ligadas a Bebeto, a administração de 51 prefeituras e Júnior Mano, a partir do envio de emendas parlamentares para que fossem desviadas em favor de candidatos ligados ao núcleo político.
O plano, afirmou Rozário aos promotores, consistia no gasto de pelo menos R$ 58 milhões nas eleições de 2024 para impulsionar candidatos aliados por meio do financiamento de carros, combustíveis, brindes e compra de votos.
Em entrevista ao Estadão, em janeiro passado, a ex-prefeita de Canindé - município com 74 mil habitantes a 100 quilômetros de Fortaleza - disse que Bebeto tinha pleno acesso nas prefeituras 'a mando do deputado federal Júnior Mano'.
Ela contou que o esquema fez uso de empresas associadas a Bebeto do Choró, registradas em nome de laranjas e de empresários aliados, para vencer licitações e desviar os recursos para uso em caixa dois e compra de votos.
"Bebeto trabalha para cinquenta e uma prefeituras, juntamente com Júnior Elmano", ela declarou ao Estadão. "O deputado concede as emendas, manda pra ele (Choró) e ele lava. A lavagem consiste em contatar o gestor, oferecendo como exemplo um milhão com retorno de quinze por cento pra ele."
A Justiça Eleitoral no Ceará impediu a posse de Bebeto na prefeitura de Choró. A decisão atendeu a um pedido do Ministério Público do Estado, que requereu a cassação do prefeito após a Polícia Federal resgatar diálogos atribuídos ao braço direito de Júnior Mano.
'Abuso de poder econômico'
Em um áudio que consta do inquérito da Operação Underhand, o prefeito 'reclama do preço a pagar pelos votos, indicando que estava muito caro'.
"Mas só para votar... ele é doido, é caro demais, mano... ele consegue quantos votos?", disse Bebeto em 29 de setembro, às vésperas do primeiro turno das eleições, que ocorreu no dia 6 de outubro. O interlocutor 'mano', com quem Bebeto do Choró conversava, seria o deputado, acreditam os investigadores.
Com base nas conversas interceptadas e depoimentos colhidos no inquérito, a PF suspeita que Bebeto do Choró operava com uma 'complexa teia de interesses'. O inquérito destaca o 'espectro de sua influência eleitoral, a compor a abrangência do abuso de poder econômico'.
O pedido de remessa dos autos ao STF foi acolhido pelo juiz Flávio Vinícius Bastos Sousa, da 3ª Zona Eleitoral do Ceará. O inquérito está nas mãos do ministro Gilmar Mendes.
(Com Agência Estado)
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.